Hoje vou falar um pouco do cineasta israelense Eytan Fox.
Eytan nasceu em Nova Yorque em 21 de agosto de 1964, mas se mudou com os pais para Israel quando tinha 2 anos de idade. Predestinado a transformar a imagem e a representação social da comunidade GLBT no país ao lado de fortes aliados no campo das artes, Eytan é o principal cineasta israelense, seus filmes já rodaram o mundo. É ele o responsável pelo filme mais bem sucedido da história de Israel, Walk on Water, ou Caminhando sobre a água, que conta a história de um homem impedido moralmente de cumprir sua missão.
Outros grandes sucessos dele foi Yossi e Jagger e o mais recente The Bubble ( A Bolha), ambos tratam de homossexualidade e guerra.
Ele também dirige a série mais assistida de Israel, Florentine, que já está no ar há 11 anos e trata da cultura jovem e urbana de Tel Aviv, capital de Israel.
Eytan Fox é gay assumido e casado a vinte anos com o produtor e seu parceiro de trabalho Gal Uchovsky.
Atualmente Eytan está trabalhando em seu novo filme, Untitled Gad Beck Biopic (ainda sem título em português), que conta a história real de um adolescente gay judeu que sobreviveu a Alemanha Nazi e se tornou membro do movimento de resistência, o filme está previsto para 2009, resta agora aguardar a estréia no Brasil.
Eytan já foi homenageado no Brasil pelo Festival de Cinema Judaico em 2007, veja abaixo a entrevista que ele concedeu ao site Mix Brasil:
:: Você nasceu nos Estados Unidos e se mudou ainda criança para Israel. Como você acha que essa mudança radical de culturas afetou sua vida e obra?
Eu me mudei ainda muito novo dos Estados Unidos, com apenas 2 anos, mas meus pais eram totalmente americanos. Então, quando chegamos em Israel, eu era o estranho, o diferente... E isso, assim como sabemos também todos os gays, acentua seus sentidos e melhora sua percepção do mundo, cria-se uma visão mais crítica. Acho que, desta forma, sempre fui um israelense diferente, parte por ser gay, parte por ser americano, o que, futuramente, me deu um outro olhar sobre o cenário.
:: Seu penúltimo trabalho, "Walk On Water", apesar do grande sucesso internacional, nunca havia sido exibido no Brasil até o Festival de Cinema Judaico. Você pode nos contar mais sobre o filme?
"Walk On Water" é meu filme mais bem-sucedido até hoje (O Mix esclarece que o longa também foi um dos maiores sucessos da história do cinema de Israel no mundo, sendo exibido e premiado em uma série de festivais e mostras). É um filme bem interessante, pois, profundamente, conta a gentil história de como um cara hétero, macho man, aprende mais sobre si mesmo e a ser um ser humano melhor através de um gay. Na verdade, a trama é sobre um agente que tem como missão vigiar um casal de irmãos e acaba se aproximando deles e se envolvendo intelectualmente com o rapaz, que é gay. O mais bacana deste filme é que, tempos depois, eu também vivenciei de certa forma a história. Isso porque Lior Ashkenazi, o protagonista do filme, acabou se tornando meu amigo íntimo depois das filmagens e, em Israel, a imprensa começou a levantar a questão de como era possível um ator playboy, hétero e garanhão ser tão amigo de um cineasta gay. Foi como experienciar o filme, sabe? Mas provamos que, sim, era possível e somos muito, muito amigos.
:: Em "Yossi & Jagger", assim como em "The Bubble", o principal fundamento da trama é uma história de amor sob circunstâncias violentas, perigosas ou trágicas. Seria esta uma metáfora para a vida em Israel, para a cultura gay ou para nenhuma das duas?
Eu nunca havia escutado ninguém colocar desta maneira e faz totalmente sentido. É exatamente isso, de certa forma. Acho que os filmes são uma metáfora para minha vida em Israel que, apesar da violência, da guerra e de todos os problemas, para mim representa amor e as pessoas que amo a minha volta. São como duas emoções diferentes em costante batalha: o amor e o ódio, a paz e a guerra... É como se eu, assim como os personagens principais de meus filmes, estivesse sempre lutando por amor nas circunstâncias mais hostis.
:: "Florentene", a série sobre cultura urbana, noturna e jovem que você dirige na TV israelense, está no ar há dez anos. Como você vê a mudança da cena de Tel Aviv ao longo desta década e como a série acaba retratando ou afetando a mesma?
Time Goes By... Você está certo, já faz 10 anos! Nossa, como o tempo passa... Eu acho que os nossos filmes (e quando digo nossos, é porque existe um grupo muito apaixonado pelo que faz que trabalha comigo) afetaram e bastante a cena urbana de Tel Aviv, principalmente em como ela foi aceita e entendida pela sociedade, e mais ainda a vida gay, que mudou muito nestes últimos anos. Eu sempre digo que Tel Aviv é a cidade mais linda do mundo e que seria um paraíso para gays e lésbicas se infelizmente não houvesse toda a situação de guerra e os mil problemas que isso gera. Mas vejo as mudanças como uma conexão mútua entre a vida e a arte. Um bom exemplo disso é que quando fomos filmar "Yossi & Jagger", fomos, obviamente, pedir ajuda para o exército de Israel, já que é muito difícil gravar sem a ajuda deles, pois precisamos de tanques, uniformes, armas e até locações. Tudo se complica sem eles. Então fui apresentar o filme e eles não quiseram apoiar, disseram que a trama abordava uma relação entre membros de diferentes cargos dentro da instituição, que isso era ilegal, e que nada feito. Claro que foi pela temática gay, mas tudo bem. Fizemos o filme, o tempo passou, veio o sucesso de "Walk On Water", e quando íamos gravar "The Bubble", mais uma vez fomos pedir ajuda. Outra vez, eles disseram não, então virei e disse: 'Escuta, vocês não entendem? Eu vou gravar o filme do mesmo jeito e ele vai rodar o mundo todo e eu sempre vou ter que explicar o drama de como vocês não me ajudaram e etc. Não seria melhor ter o logo do exército ao final do filme e todos aplaudirem e saber que vocês ajudaram?'. Para minha surpresa, eles responderam: 'É, é verdade. Você tem razão. Vamos apoiar, então". E assim conseguimos o apoio do exército israelense para um filme gay.
:: Você costuma trabalhar com um mesmo grupo de amigos, entre eles o ator Ohad Knoller (protagonista de "The Bubble" e "Yossi & Jagger", e o popstar Ivri Lider, responsável pela trilha de seus últimos três longas. Como é sua relação com eles?
Então, o Ivri é um amigo muito próximo e uma pessoa maravilhosa. Ouvi dizer que ele anda tocando muito em clubes noturnos no Brasil, remixado pelo Offer Nissim, certo? Nós amamos sua música e foi uma sábia escolha tê-lo para a trilha dos filmes. Quando ele se assumiu gay em Israel, por exemplo, quem fez a entrevista com ele foi o Gal Uchovsky (amigo e parceiro de Eytan no roteiro e produção de seus filmes). Tem uma história engraçada, porque a versão que o Ivri fez para "Bo", canção-tema de "Yossi & Jagger" (original de Rita Kleinstein), é cantada no filme, só que o personagem muda a letra e canta "É mais legal fazer sexo anal", ou algo assim. Então, hoje, quando você vai a um show do Ivri, todo mundo canta como no filme! Até nos clubes de lá eles param a música e todo mundo canta a versão do "sexo anal"... E isso é bacana, porque somos um grupo de homens gays em Israel que estamos mudando e abrindo mais a sociedade... Outro exemplo disso foi quando na série "Florentene", um persoonagem se assumiu gay para o terapeuta e para a família. Na mesma semana, muitos casos idênticos, de jovens saindo do armário para seus entes queridos e psicólogos, aconteceram em Israel...
:: E Ohad( foto ao lado)?
Ah, sim, o Ohad fez "Yossi & Jagger", foi maravilhoso, ele até ganhou prêmios no festival de Tribeca , entre outros. Mesmo assim, "The Bubble" teria outro ator que já tínhamos escolhido, porém as coisas não deram muito certo com ele e um dia , fui almoçar com Ohad. Estávamos conversando, fiquei ali olhando para ele e como é muito meu amigo e o amo muito, pensei nele para o papel e pedi que ele fosse ao teste. Quando comentei com a equipe sobre ele, todos começaram a rejeitá-lo. 'Não, porque ele está gordo, e não é sexy o suficiente, nem gay suficiente, nem fofo...'. Fiquei ali ouvindo, falei com Ohad depois e avisei para que, no teste, ele fosse tudo aquilo que todos achavam que ele não era. Pois ele foi e todos se apaixonaram! 'Ah, como ele é lindo, simpático...'. Claro que ele ganhou por seu carisma e charme, mas ainda havia trabalho por fazer. Depois, o levamos para um personal trainer, ele teve uma dieta balanceada, ficou um pouco mais loiro e se tornou um típico jovem cool de Tel Aviv. Mas tenho que dizer que, durante as filmagens, não foi fácil para ele durante muitos momentos, mas acho que consegui conduzi-lo bem e ele acabou perdendo todos os medos ou travas e se soltou. Acho que foi minha maior conquista como diretor até hoje...
:: Você está sendo homenageado em São Paulo. Como está sendo a visita brasileira até agora?
Estou muito feliz, muito feliz com a homenagem e com a oportunidade de vir ao Brasil. Sabe, quando eu tinha uns 16, 17 anos, fizemos uma montagem na escola que se chamava 'País Tropical' e eram várias músicas de Jobim, Gal Costa e outros que traduzimos ao hebraico e cantamos em uma apresentação. Sempre amei tudo relativo ao Brasil, sua comida, sua música, tudo... Estou realmente feliz de estar aqui!
Filmografia
- After (1990)
- Shirat Ha'Sirena ("Siren's Song," 1994)
- Florentin (1997, TV series)
- Ba'al Ba'al Lev (1997)
- Yossi & Jagger (2002)
- Walk on Water (2004)
- The Bubble (2006)




1 comentários:
O primeiro filme do gênero que assisti foi "Yossi & Jagger". Gostei bastante!
Postar um comentário